The Division 2 Review

A trajetória da Massive entertainment, estúdio sueco responsável pela franquia se entrelaça de forma profunda com a própria campanha do segundo game da marca The Division, como um reflexo e uma autoanálise, ambas as jornadas apresentam altos e baixos, aprendizado, muitos problemas e dificuldades, evolução, retomada e finalmente triunfo!

Caso você não viva sob uma rocha, deve conhecer mesmo que de longe um pouco da história da franquia The Division, que apesar de apenas dois jogos em seu portfólio, acumula experiência, aprendizados e glorias de sobra para comprovar e justificar a sua existência.

Anunciado de forma oficial em 9 de março de 2018 e revelado visualmente através de gameplay na E3 em junho do mesmo ano, a segunda aparição da franquia prometia ser maior e melhor em todos os aspectos em comparação ao seu antecessor, com lançamento oficial em 15 de março de 2019, o game confirma as expectativas e com uma evolução consistente coloca a franquia e o gênero em ótima forma e acima dos concorrentes.

O triunfo e a reconquista de Washington, ou da Massive?

Premissa e campanha

O cenário deste segundo game se passa sete meses após os acontecimentos do The Division original, onde o surto apocalíptico se instaura em Nova Yorque graças a liberação de uma variante da Varíola modificada geneticamente, conhecida como veneno verde. Os reflexos destes acontecimentos se espalham e chegam a capital Washington, devastando a cidade e abrindo precedente para facções criminosas se organizarem e tomarem conta das ruas, mas como o slogan prevê, cabe a nós, agentes da Divisão retomar controle da situação “quando a sociedade cai, nós nos levantamos”.

A campanha presente no game é robusta, porém, simples, oferecendo de 20 – 30h de duração, dependendo da sua maneira de jogar, podendo chegar a longas 40h de duração, sem DLC ou pagamentos extras, você recebe por aquilo que pagou.

As missões em sua maioria possuem um design melhor do que as do primeiro game, inclusive sendo mais longas e um pouco mais diversificadas, grandes pontos turísticos da cidade de Washington são utilizados de forma inteligente para construir as muitas missões da campanha, é possível notar o extremo cuidado do estúdio nos pequenos detalhes, seja no posicionamento das opções de cover, seja na alternância entre combate vertical e horizontal, na disposição dos recursos e quantidade de inimigos, os cenários são extremamente densos, com muitos detalhes, objetos e destroços espalhados por todos os lados, reforçando ainda mais a estética pós apocalíptica da franquia, tudo foi pensado de um ponto de vista de design para que as missões funcionem bem de acordo com a proposta de jogabilidade.

Apesar de serem melhor desenvolvidas, as missões ainda sim se mostram consideravelmente repetitivas, abusando da fórmula e despachando ondas atrás de ondas de inimigos para o combate, de um cenário a outro, com apenas algumas variações.

O contexto da história é bem desenvolvido com apoio dos famosos ECOS, áudios e vídeos, mas senti que os desenvolvedores perderam algumas boas oportunidades de enriquecer ainda mais o contexto geral do game, não aproveitando personagens e ganchos deixados pelo primeiro The Division, por exemplo onde está e o que aconteceu com Aaron Keaner, ele poderia ter sido explorado por aqui.

Jogabilidade

Assim como prometido pelos desenvolvedores, praticamente todas as mecânicas de jogabilidade foram refinadas para esta sequência, a movimentação sofreu uma desacelerada, que em conjunto com um grande ajuste no funcionamento da resistência e vida dos agentes, contribuíram para um game mais tático, mais baseado em cover, o tempo para matar foi drasticamente reduzido, onde até mesmo os inimigos mais tanks podem ser derretidos em poucos segundos, entretanto, a letalidade destes inimigos também foi altamente modificada, qualquer mob de rua pode nos matar com apenas alguns tiros, as armas em sí passaram por refinamentos e parecem estar mais acessíveis, um pouco mais fáceis de se utilizar.

O sistema de resistência e cura foi completamente redesenhado, agora não mais existindo os OPs medikits, que foram substituídos por placas de armaduras que precisam ser trocadas para recuperar a barra de armadura, exigindo alguns segundos antes de voltar a ação, adicionando mais uma camada tática ao gameplay. De maneira geral as mecânicas de combate funcionam bem e receberam melhorias significativas, fazendo com que o core loop do game seja muito divertido e prazeroso.

A progressão funciona muito bem e acontece através dos acampamentos aliados, à medida que você realiza missões destes acampamentos, eles passam por melhorias e restauram partes importantes de seu funcionamento, liberando novas opções e pessoas chaves para atividades chaves.

Existem missões principais da campanha, missões secundárias, e diversas atividades do mundo aberto, salvar reféns, desmantelar sistemas de propaganda  das facções, pontos de controle, comboios de recursos, etc, que apesar de repetitivas, adicionam muito ao sentimento de mundo vivo, a Massive realmente se esforçou para nos trazer um mundo onde as coisas acontecem fora do núcleo principal, são civis lutando pela sobrevivência, inimigos atacando bases aliadas, NPCs em missão de patrulha e entrega de recursos, isso mostra que a vida na cidade passa por dificuldades, mas continua.

As habilidades foram largamente melhoradas, sendo também mais abundantes, indo das já tradicionais torreta, pulso e escudo, passando por novidades como drone e lançador de química, cada uma delas com suas variáveis, abrindo novas possibilidades de gameplay, apesar de problemas iniciais,

Como um bom looter, a variedade de armas e equipamentos a sua disposição é absurda, são escopetas, metralhadoras de assalto, metralhadoras leves, submetralhadoras, rifles e rifles de precisão, de todas as qualidades e inclusive exóticas, que retornam nesta sequência, com relação aos equipamentos, foram implementadas as fabricantes (marcas), são dezenas delas e cada uma com seus atributos positivos.

A inteligência artificial dos inimigos merece menção especial, eles são mais inteligentes, mais coordenados, atacando de forma consciente (na maioria das vezes), eles irão flanquear, correr em sua direção, chamar reforços, se esconder, alguns podem proteger e curar seus parceiros de crime, tudo isso em conjunto pode criar cenários bastante complicador de se safar, basicamente os inimigos se dividem em 3 facções mais uma no endgame, cada uma delas com suas características, objetivos e forma de atuação próprias, apesar disso, a diversidade visual dos inimigos continua pequena, repetindo os mesmos modelos a cada missão, os chefes em sua maioria são variantes mais protegidas por armaduras extra, mas não conseguem passar personalidade própria e não chegam a ser todos esquecíveis.

Gráficos e ambientação

Graficamente falando, The Division 2 é bastante competente, com uma recriação de Washington 1:1, toda a cidade se mostra exuberante, os efeitos climáticos possuem destaque, considerando o sistema de clima dinâmico, o game passa de um dia ensolarado para uma tempestade em poucos minutos, passando por manhãs cheias de neblina e chuvas torrenciais, os efeitos visuais são ótimos, efeitos de luz e sombra, explosões e fogo, porém, em alguns momentos e em lugares distantes e de difícil acesso encontramos texturas de baixa resolução, a textura dos personagens não possuem detalhes e imperfeições, dando um ar artificial e emborrachado aos modelos, outra falha bastante visível são os constantes delays de renderização, quando voltamos de um loading, o game abre a cena com todos os objetos mas as texturas sem carregar os detalhes, levando alguns segundos para uma placa ficar legível, caixas ganharem a textura de papelão, etc, não são defeitos que quebram o game, mas chegam a incomodar.

Por outro lado, o grande trunfo visual do game fica por conta de sua ambientação, a recriação de Washington é incrível, cheia de detalhes e áreas de grande identificação, a direção de arte realmente brilha quando a cidade é transformada em um cenário pós apocalíptico, a degeneração está em todos os cantos, o sentimento de isolamento, de abandono de desespero fica presente em cada rua, lixo, sujeira, bagunça, carros e caminhões largados, tudo isso em maior quantidade do que pessoas, retratando visualmente de forma perfeita o caos vivenciado pela cidade.

Ainda sobre a ambientação, ela traz uma verdade imediata, gráficos mais bonitos não necessariamente são gráficos melhores, nesta sequência os gráficos são mais bonitos, pois são beneficiados por ambientes mais diversificados, fauna, flora, parques e monumentos, sempre contando com o clima ameno banhando tudo com luz do sol, eles apresentam uma paleta de cores mais quentes, em contraste a paleta fria e apagada do primeiro game, que se passa em NY no inverno.

Som

Outro ponto forte do game, o design de áudio é extremamente rico, quase tudo no game possui seu som característico, as armas soam diferentes, as habilidades e explosões também, os inimigos falam entre si o tempo todo, assim como os NPCs aliados. O nível de detalhamento é tão grande que é possível perceber sons diferentes de acordo com a dinâmica do cenário, por exemplo, atirar com uma escopeta em um cenário grande e aberto soa diferente do que atirar com ela em um beco pequeno, o som fica mais abafado e ganha eco, a mesma coisa acontece com os fenômenos climáticos, quando a chuva cai, o som desencadeado é diferente dependendo da superfície de contato da água, os sons são intensos e muito convincentes.

As músicas fazem bem ao seu papel, indo de momentos mais calmos a passagens eletrônicas de mais peso, para acompanhar os momentos mais frenéticos de tiroteios, não é nada memorável, mas compre bem seu papel.

Performance

Como nem tudo é um headshot certeiro, o game comete alguns deslizes, alguns simples, outros bem graves.

Nosso gameplay aconteceu em um PS4 Pro, e mesmo com o hardware um pouco mais parrudo, muitos glitches, bugs, problemas de loading e especialmente balanceamento infestavam as seções logo após o dia 1. Os já comentados delays de renderização, bugs de áudios, inimigos em posição T, armas desaparecendo na mão dos agentes, posições estranhas das pernas e braços de personagens, telas pretas, loading infinitos, bug no drop de munição especial, comportamento imprevisível da inteligência artificial, foram alguns dos muitos problemas mais simples identificados no game, do outro lado do espectro, tivemos bugs muito sérios a ponto de quebrar o game e estragar a experiência, por exemplo, as habilidades, parte vital da mecânica de combate, estavam completamente bugadas e simplesmente não funcionavam, mods e talentos de equipamentos totalmente desbalanceados, este último, com alguns sendo totalmente overpower, enquanto a maioria injogável. Felizmente a rápida atuação da Massive garantiu que a grande maioria dos problemas fossem resolvidos, garantindo outro ponto positivo deste lançamento, a interação dos desenvolvedores, ouvindo a comunidade e sendo transparente sobre os problemas. Quem dera todas as desenvolvedoras fossem assim…!!

End game

A dinâmica do Endgame no TD 2 é outro acerto crítico, com uma mistura de vasto conteúdo disponível, atividades diversificadas em mundo aberto, missões especiais em rotação, projetos, alvos valiosos, zona cega, PVP, e até mesmo uma nova facção para chacoalhar as coisas, o game se destaca como um dos melhores conteúdos pós campanha de todo o mercado, é garantia de horas e horas de gameplay, com a expectativa de muitas adições no ano 1, que desta vez será totalmente grátis e disponível a todos os jogadores, como exemplo a adição de novas armas exóticas, gearsets e recentemente a RAID.

Isso demonstra o cuidado e aprendizado dos desenvolvedores com relação a franquia, se tornando exemplo de como conteúdo pós lançamento deve ser trabalhado.

Zona Cega

Falando em PVP, as zonas cegas estão de volta, reformuladas, são 3 delas espalhadas pelo cenário, com a ideia de serem menores, porém mais densas, atraindo players pelo alto risco, grandes recompensas, entretanto, em nossos testes, as zonas cegas se mostraram lugares quase vazios, favorecendo o combate PVE e nem tanto PVP, a disputa entre jogadores se mostrou mais lenta e menos ameaçadora, mas ainda sim, uma experiência válida e interessante para quem gosta e quando funciona.

Conclusão

The Division 2 se destaca por trazer de volta o sólido looter shooter que o primeiro game apresentou, divertido, profundo, tenso, mas o faz de maneira revitalizada, ainda mais ambiciosa, com mais acertos e menos erros, campanha robusta e divertida, mecânicas refinadas e expandidas, novos conceitos, tudo isso embrulhado em uma pacote graficamente competente, uma ambientação impressionante, sistemas de loot e progressão mais profundos e complexos já vistos em um game deste gênero, conteúdo de sobra para manter os jogadores voltando por muito tempo. Tirando alguns pontos baixos e a presença de muitos bugs, o game oferece uma experiência incrível para os apreciadores do gênero.

Assim como a invasão de Washington e sua retomada em triunfo, The Division 2 esmaga a concorrência e se coloca em um patamar acima dos demais, brilhando como um farol na escuridão pós apocalíptica, como o alvo a ser batido… mau posso esperar pelo que virá no futuro da franquia!!

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